|
[domingo, 5 de agosto de 2007]
Especial Entrevistas .:Revista Isto é 2006:.
O fiel erotismo de Negrini
Após três anos longe do vídeo, a atriz retoma a carreira, conta como o músico Otto a seduziu, diz que nunca pensou em formar família, fala sobre fidelidade, amor, sexo e diz que é sensacional poder ser submissa e objeto do desejo.
A chave do sucesso, na visão de Alessandra Negrini, reside no ato de desejar – na vida e na arte. Até quatro anos atrás, o desejo de formar uma família era para ela algo desconhecido. Foi quando conheceu o músico Otto. A atriz recorda com encantamento a atmosfera que uniu os dois. Quem primeiro a seduziu foi o Otto cantor. “Eu me apaixonei por ele como artista”, diz ela, que comprou o CD e decorou o repertório. Naquele mesmo outubro de 2001, foi apresentada a ele durante o lançamento de O Beijo no Asfalto, peça que encenava em São Paulo. “Eu disse que o achava maravilhoso, e ele respondeu: ‘Eu te acho divina’. Aí rolou.” A paixão foi selada com duas tatuagens. Otto escreveu “Alê” em seu braço esquerdo; Alessandra retribuiu com “Otto” no seu direito. Ele deixou São Paulo e se mudou para a casa da atriz no Rio. Ensinou Alessandra a apreciar os prazeres da mesa nordestina, como a carne de bode e o xinxim de galinha.
Despertou também na atriz a vontade de formar uma família. Em 2003, nasceu Betina. “O nascimento de uma menina dá uma rejuvenescida na mulher”, analisa ela, diante de uma realidade que não visualizava até conhecer o cantor. “Fiz um esforço para aceitar a palavra família. Achava careta”, diz a atriz, que ainda se espanta de ter formado uma. “Nunca achei que isso fosse acontecer comigo.” Hoje, aos 35 anos, vive feliz, em paz e harmonia com o marido, a filha de um ano e três meses e Antônio, de 9 anos, do relacionamento com o ator Murilo Benício. A estabilidade em casa trouxe serenidade – e outro desejo: o de voltar a entrar de cabeça na profissão. Há três anos afastada do vídeo, dedicada à maternidade e à vida de casada, Alessandra Negrini retoma a carreira com a mesma força que a levou a construir um lar. Brilha na minissérie JK e atua em dois filmes.
Em JK, de lentes verdes, é Yedda Ovalle Schmidt, exímia amazona e amiga do presidente Juscelino Kubitschek. Yedda despertou em Alessandra o fascínio pela montaria. Foram quatro meses de aulas de equitação para se preparar para a minissérie. Ao término de cada dia de cavalgada, as dores no corpo se mostravam intermináveis e só eram sanadas com analgésicos e sessões de acupuntura. “A equitação quebra você inteira. No começo, tive que tomar Dorflex, mas, como detesto remédio, investi na acupuntura”, conta. A mesma intensidade de interpretação ela empregou para viver Cleópatra, o primeiro personagem épico de sua carreira e título do filme ainda sem data de estréia. Quando soube que Julio Bressane andava atrás de uma atriz para viver a rainha do Egito, procurou o diretor. “Devo muito
a ela e sou admirador do seu esforço”, diz Bressane. “É uma atriz capaz de realizar cenas com extremo rigor, além de ser espetacular no improviso.”
Alessandra também está no longa Desafinados, de Walter Lima Jr., com lançamento previsto para este semestre. O papel desafiou a atriz a viver uma mulher mais dotada de solidez moral. “Sempre me chamam para fazer a amante, a outra, a que seduz. Eu adorei fazer a personagem doce, mas que sofre à beça”, conta. Na vida real, trabalha essa personagem com muito prazer. O marido é fonte de segurança para a atriz. “Estou do lado da Alessandra para o que der e vier. Faço o que for preciso por ela”, declara-se ele. Apesar da imagem de mulher moderna e desprendida, Alessandra gosta de ter um marido protetor. “No nosso segundo encontro, Otto me disse: ‘Você precisa de um homem forte para estar ao seu lado, e eu sou um homem forte’”,
conta ela, acomodada em uma das mesas do restaurante Garcia & Rodrigues, no Rio, enquanto almoça um sanduíche com vinho
tinto português. “Ele falou também que me daria uma filha. E eu acreditei!”, sorri.
Foi com a mesma crença que deixou São Paulo há dez anos para investir naquela que seria a personagem mais marcante de toda a carreira. Na pele e alma da Engraçadinha, de Nelson Rodrigues, fez o Brasil se apaixonar pela trágica e voluptuosa personagem. Engraçadinha marcou sua estréia na tevê – e o primeiro e grande salto da atriz no universo da teledramaturgia. Foi José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, vice-presidente de operações da Rede Globo na época, que defendeu a escolha de Alessandra para o papel-título da minissérie. “Além do evidente talento para uma iniciante, marcado pela voz, postura e naturalidade, Alessandra tinha um mistério próprio das grandes atrizes”, lembra ele. Dez anos depois essas palavras soam como presságio – e Alessandra Negrini mostra, na vida e na profissão, do que a força de um desejo é capaz.
A eterna Engraçadinha
A obra de Nelson Rodrigues é vital na vida de Alessandra. A minissérie Engraçadinha a revelou para o País. Na estréia da peça O Beijo no Asfalto ela conheceu o marido, Otto. A pedido de Gente, ela fala sobre temas rodriguianos: Casamento, Amor, Submissão, Sexo, Nudez e Fidelidade.
Vestido de Noiva
“O casamento requer um investimento. Se você começa a liberar geral, é difícil manter. É a frase genial do Cazuza: ‘O nosso amor a gente inventa’. Enganar é complicado, é antigo. Hoje em dia é tão fácil separar que, se você está com a pessoa, é porque a ama. Casamento não cai do céu. É uma batalha. Tem que ser pensada.”
Núpcias de Fogo
“Não imagino o amor sem ciúme. Mas tem que dar limite ao sentimento. O equilíbrio é saber não dar tanta voz ao ciúme, deixar falar baixinho. Eu sou ciumenta. Acho o Otto maravilhoso, lindo, gostoso e é normal que mulheres possam se interessar por ele.”
A Vida como Ela É...
“A liberdade assusta os homens em geral, mas também atrai.
A submissão em si é um tesão. Não vai me dizer que não é – porque é. Poder ser submissa é sensacional. É uma delícia ser objeto
sexual do homem que você quer. Não tenho o menor preconceito com isso. Uau!”
Meu Destino é Pecar
“Sexo é fundamental. É uma experiência de autoconhecimento e de amor. Você atinge lugares no sexo que não são alcançáveis em nenhuma outra atividade. E não é necessariamente por amor. Sexo é sexo! Sexo em si é uma experiência amorosa, mesmo que seja com um desconhecido.”
Toda Nudez Será Castigada
“Acho que não posaria nua de novo. Já fiz uma vez. Também não sei... Quem sabe se eu estiver gostosinha daqui a 15 anos e surgir um convite, eu diga: ‘Uau, vou defender as mulheres mais velhas!’ Eu me sinto melhor hoje do que há 10 anos.”
Perdoa-me por me Traíres
“Casamento aberto não existe. Pode ser que após 15 anos de casada eu tenha outra opinião. Sou uma jovem casada, estou curtindo. O casamento é novo para mim – o Otto é minha novidade. A descoberta está no meu marido e não em outras pessoas.”

por Aninha * 15:43
___________________
|